lunes, 4 de julio de 2016

La limitación de su lugar

ENTREVISTA A LÍVIA NATÁLIA, POETA BAHIANA



PET-Letras: Recentemente o rapper Emicida foi acusado de machismo ao escrever a canção intitulada Trepadeira. Em uma nota no Facebook, o artista pede desculpas às militantes feministas e se defende ao afirmar o caráter ficcional da canção e indicando que ele, como artista, e como muitos outros antes dele, escreve sobre essa temática, mas não necessariamente legitima esses discursos. É possível falar de uma contradição de identidades nesse caso, já que além de poeta, o rapper é negro e se considera feminista?

Lívia Natália: Acho que você tem aí um bolo de problemas, não é? Primeiro que é muito complicado esse lugar de um homem que se diz feminista. Porque o feminismo, você pode até estar, vamos dizer assim, afim à causa. Você pode até ter um interesse, uma contaminação, um comprometimento com a causa, mas se ele fosse feminista ele não faria essa música. Ponto. Então existe um problema que é o seguinte: o sujeito que está potencialmente do lado do opressor, ele não pode em momento nenhum se identificar com o lado do oprimido sem estar sendo opressor. Entende? Não tem como o homem dizer “eu sou feminista” sem que isso já seja um gesto de opressão. Então é muito mais interessante reconhecer a limitação do seu lugar. Por exemplo, se ele realmente fosse um sujeito que ocupasse uma postura feminista, nem passaria pela cabeça dele fazer uma música em que a mulher estivesse numa lugar de subjugação, de exposição, de qualquer nível de violência. Então a questão não é nem o choque de identidades aí. A questão é simplesmente: um sujeito que ocupa um lugar de privilégio, que é o lugar do masculino hegemônico numa sociedade machista, exercendo o seu lugar. Seria muito mais coerente ele simplesmente pedir desculpas, não se assumir feminista e compreender a limitação do seu lugar de fala, porque todo lugar de fala, independente de qual seja, ele tem limitações. Não é toda mulher, por exemplo, que vai ser feminista. A gente sabe muito bem disso. Não necessariamente porque se é mulher, se tem um discurso em defesa dos direitos ou das necessidades das mulheres. Então não existe lugar nato, mas também eu não posso querer dizer que homem é capaz de falar pelas mulheres, ele pode até falar com as mulheres, em conjunto, mas falar por elas não, porque você cai em incidentes, em absurdos de representação como esse.



Tomado de https://petletras.wordpress.com/2016/02/22/entrevista-com-a-professora-livia-natalia/

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